quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Aprendendo com a prática: relatos de agressões e arbitrariedades

 (Foto: Agência O Globo)
Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, morreu no dia 10 de fevereiro de 2014, em decorrência de um incidente ocorrido quatro dias antes, quando registrava imagens do choque entre a Polícia Militar e manifestantes, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ele trabalhava na TV Bandeirantes desde 2004. Profissional experiente, havia participado de cursos de prevenção de riscos em coberturas de conflitos armados. Santiago Andrade vinha de cobrir uma outra pauta, quando foi chamado para gravar imagens da manifestação contra o aumento das passagens de ônibus no centro do Rio. Atuava como motorista e cinegrafista, e trabalhava sem auxiliar ou repórter naquele dia. Enquanto fazia seu trabalho, com a atenção totalmente focada na lente da câmera, foi atingido pelas costas por um rojão disparado por um manifestante. A morte do cinegrafista foi, até agora, o incidente mais grave envolvendo os protestos e a imprensa. Fotógrafos e operadores de câmera, como Santiago Andrade, correm riscos adicionais por manejar equipamentos pesados e manter a atenção focada na captação das cenas, enquanto as condições de segurança mudam rapidamente ao seu redor. Para estes profissionais, o trabalho em equipe é ainda mais importante, uma vez que não podem voltar a atenção, ao mesmo tempo, para dois ou mais lugares diferentes. Um repórter cinematográfico do Ceará, por exemplo, se colocou em situação de vulnerabilidade durante a cobertura de um protesto. Não houve planejamento prévio nem distribuição de funções entre os três membros da equipe. Além de gravar, ele mesmo exercia a função de motorista e foi escalado sem saber que estava indo para uma manifestação. Nenhum membro da equipe possuía equipamentos de proteção pessoal.
Comportamentos imprudentes aumentam o risco. Mas mesmo quando medidas de precaução são tomadas, a cobertura de protestos continua sendo perigosa. Em São Paulo, um repórter fotográfico ficou cego de um olho após ser atingido por uma bala de borracha disparada por policiais, em junho de 2013. Ele considera que é preciso ir além da discussão da proteção do jornalista e diz que problemas estruturais impactam na falta de segurança. No auge dos protestos, ele lembra, grandes jornais publicaram editoriais cobrando uma ação mais enérgica da polícia, mesmo quando já se temia por consequências mais graves destas ações truculentas. Por isso, ele diz que é preciso que a imprensa rediscuta a própria pauta da violência e o seu papel nesta pauta.

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