sábado, 5 de dezembro de 2015

O uso de hipóteses: O cerne do método investigativo

Os repórteres estão sempre reclamando que os editores recusam suas grandes ideias de novas histórias. É claro, isso acontece mesmo. Mas frequentemente, o que o(a) editor(a) recusa não é de forma alguma a história. E sim o convite para um desastre – uma investigação pobremente planejada que queimará tempo e dinheiro por um resultado bastante incerto. Quando éramos mais jovens, nós mesmos oferecemos algumas dessas mulas mancas a editores, e fomos bastante sortudos que eles tenham quase sempre abatido esses pobres animais antes que pudéssemos montá-los.

Por exemplo, dizer “Eu quero investigar a corrupção” não é uma grande proposta para um(a) editor(a). É claro, a corrupção existe, em todos os lugares do mundo. Se você dedicar tempo suficiente em procura dela, você encontrará alguma coisa. Mas a corrupção em si, e por si mesma, não é uma questão. Ela não é uma história, e o que os jornalistas fazem é contar histórias. Se você procurar uma questão, ao invés de uma história, você pode se tornar um(a) especialista nessa questão, mas uma grande quantidade de tempo, dinheiro e energia serão perdidos ao longo do caminho. E é por isso que qualquer editor(a) com um cérebro lhe dirá: “Não”.

Se, ao invés disso, você disser, “A corrupção no sistema escolar tem destruído as esperanças dos pais de que os seus filhos tenham vidas melhores”, você está contando uma história específica. E isso já é mais interessante.

Esteja consciente disso ou não, você também está afirmando uma hipótese – porque você ainda não provou que a sua história é a história correta.

Você está propondo que a corrupção nas escolas existe, e que ela tem efeitos devastadores para pelo menos dois grupos de pessoas, os pais e os filhos. Isso pode ser ou pode não ser verdade; você ainda precisa encontrar os fatos.

Enquanto isso, a sua hipótese define questões específicas que devem ser respondidas se você quiser descobrir se ela faz sentido ou não. Isso acontece por meio de um processo no qual separamos as partes da hipótese e vemos quais afirmações individuais e específicas ela faz. Em seguida, podemos verificar cada afirmação individualmente. Ademais, também veremos o que queremos dizer por meio das palavras que usamos para contar a história, porque precisamos descobrir e definir o seu significado para podermos chegar a algum lugar.

Você pode responder a essas perguntas em qualquer ordem, mas a ordem mais sábia é quase sempre a que você pode seguir com mais facilidade. Qualquer investigação se tornará difícil mais cedo ou mais tarde, porque ela envolve muitos fatos, muitas fontes – o que significa que você precisará fazer muita organização do material – e muita atenção no sentido de garantir que você realmente chegou à história direito antes de por em risco a sua reputação.

Em nosso exemplo hipotético, o lugar mais fácil de começar é provavelmente uma conversa com os pais e os filhos a respeito das suas esperanças e do seu desespero.

Uma vez que você tenha encontrado pelo menos quatro fontes que lhe confirmem que de fato há corrupção nas escolas – menos de quatro é ainda uma base muito arriscada –, você poderá começar a examinar o funcionamento do sistema escolar. Você precisará estudar as suas regras, os seus procedimentos e os seus ideais e missão tais como são afirmados.

Quando você conhecer o funcionamento do sistema, você verá as zonas cinzentas e negras nas quais a corrupção pode ocorrer. Poderá então comparar a realidade daquilo que você ouviu e descobriu com o que o sistema declara.

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