Os repórteres estão sempre reclamando
que os editores recusam suas grandes
ideias de novas histórias. É claro, isso
acontece mesmo. Mas frequentemente, o que
o(a) editor(a) recusa não é de forma alguma
a história. E sim o convite para um desastre
– uma investigação pobremente planejada
que queimará tempo e dinheiro por um
resultado bastante incerto. Quando éramos
mais jovens, nós mesmos oferecemos algumas
dessas mulas mancas a editores, e fomos bastante
sortudos que eles tenham quase sempre
abatido esses pobres animais antes que pudéssemos
montá-los.
Por exemplo, dizer “Eu quero investigar a corrupção”
não é uma grande proposta para um(a)
editor(a). É claro, a corrupção existe, em todos os
lugares do mundo. Se você dedicar tempo suficiente
em procura dela, você encontrará alguma
coisa. Mas a corrupção em si, e por si mesma,
não é uma questão. Ela não é uma história, e o
que os jornalistas fazem é contar histórias. Se
você procurar uma questão, ao invés de uma
história, você pode se tornar um(a) especialista
nessa questão, mas uma grande quantidade
de tempo, dinheiro e energia serão perdidos ao
longo do caminho. E é por isso que qualquer editor(a)
com um cérebro lhe dirá: “Não”.
Se, ao invés disso, você disser, “A corrupção no
sistema escolar tem destruído as esperanças dos
pais de que os seus filhos tenham vidas melhores”,
você está contando uma história específica.
E isso já é mais interessante.
Esteja consciente disso ou não, você também
está afirmando uma hipótese – porque você
ainda não provou que a sua história é a história
correta.
Você está propondo que a corrupção nas escolas
existe, e que ela tem efeitos devastadores para
pelo menos dois grupos de pessoas, os pais e os
filhos. Isso pode ser ou pode não ser verdade;
você ainda precisa encontrar os fatos.
Enquanto isso, a sua hipótese define questões
específicas que devem ser respondidas se você
quiser descobrir se ela faz sentido ou não. Isso
acontece por meio de um processo no qual
separamos as partes da hipótese e vemos quais
afirmações individuais e específicas ela faz. Em
seguida, podemos verificar cada afirmação individualmente.
Ademais, também veremos o que
queremos dizer por meio das palavras que usamos
para contar a história, porque precisamos
descobrir e definir o seu significado para podermos
chegar a algum lugar.
Você pode responder a essas perguntas em qualquer
ordem, mas a ordem mais sábia é quase
sempre a que você pode seguir com mais facilidade.
Qualquer investigação se tornará difícil mais
cedo ou mais tarde, porque ela envolve muitos
fatos, muitas fontes – o que significa que você
precisará fazer muita organização do material – e
muita atenção no sentido de garantir que você
realmente chegou à história direito antes de por
em risco a sua reputação.
Em nosso exemplo hipotético, o lugar mais fácil
de começar é provavelmente uma conversa com
os pais e os filhos a respeito das suas esperanças
e do seu desespero.
Uma vez que você tenha encontrado pelo menos
quatro fontes que lhe confirmem que de fato
há corrupção nas escolas – menos de quatro é
ainda uma base muito arriscada –, você poderá
começar a examinar o funcionamento do sistema
escolar. Você precisará estudar as suas regras,
os seus procedimentos e os seus ideais e missão
tais como são afirmados.
Quando você conhecer o funcionamento do sistema,
você verá as zonas cinzentas e negras nas
quais a corrupção pode ocorrer. Poderá então
comparar a realidade daquilo que você ouviu e
descobriu com o que o sistema declara.
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