sábado, 5 de dezembro de 2015

Como as hipóteses funcionam


1. Por que não importa se a primeira hipótese for verdadeira.

O enquadramento de uma investigação como uma hipótese é um procedimento tão antigo quanto a ciência, e é utilizado com sucesso em domínios tão distintos entre si quanto o trabalho policial e as consultorias de negócios (de fato, é uma aberração que apenas recentemente ele tenha sido importado para dentro do jornalismo como um método consciente). Em essência, ele se baseia em um truque mental. Você cria uma afirmação daquilo que pensa que a realidade é, com base nas melhores informações de que você dispõe, e, então, procura novas informações que possam provar ou refutar a sua afirmação. Esse é o processo de verificação. Como mostramos acima, se a hipótese como um todo não puder ser confirmada, os seus termos separados podem ser, ainda assim, individualmente verificados. Caso contrário, volte um passo atrás e produza uma nova hipótese. Uma hipótese que não pode ser verificada como um todo ou em parte é uma mera especulação.

Se uma afirmação for reforçada pelas evidências, ótimo: Você tem a sua história. De maneira menos visível, também é ótimo se a afirmação não for verdadeira, pois isso significa que deve haver uma história melhor do que a que você imaginou a princípio.

2. Para ter sucesso, estruture a hipótese. A hipótese inicial não deve ser mais longa do que três frases, por dois motivos muito bons. Se ela for mais longa do que isso, você não conseguirá explicá-la a outra pessoa. Mais importante, se ela for mais longa do que isso, você mesmo(a) provavelmente não a entenderá.

A hipótese é afirmada como um história. Isso tem uma importância imensa, pois significa que você terminará por onde começou – com uma história. Estamos não só coletando fatos; estamos contando histórias que esperamos que possam mudar o mundo. A hipótese lhe ajudará a explicar a história aos outros, começando pelo seu editor e editora, e então ao público.

Em sua forma mais básica, a história é quase sempre uma variante das seguintes três frases:

"Estamos diante de uma situação que está causando intenso sofrimento (ou que merece ser mais amplamente conhecida como um bom exemplo)".

"Foi assim que a situação chegou a esse ponto."

"Isso é o que acontecerá se nada mudar... E da seguinte maneira, poderíamos mudar as coisas para melhor".

Preste atenção nessas frases: Elas têm uma ordem cronológica implícita. Pode não ser aparente, porque a ordem não é uma linha reta do passado para o futuro. Ao invés disso, ela nos diz:

A notícia do problema, que é o presente;

A causa do problema, no passado;

O que deve mudar para que o problema seja resolvido, no futuro.

Assim, quando compomos a nossa hipótese, estamos começando a compor uma narrativa – uma história que envolve as pessoas que se movimentam em um lugar e um tempo específicos. Uma das coisas mais difíceis no trabalho de investigação é manter o foco na narrativa, e não se deixar soterrar pelos fatos. A sua hipótese pode lhe auxiliar. Quando você se sentir sobrecarregado(a), pare de cavar e comece a olhar para a história que os seus fatos estão buscando lhe contar. Se eles não se encaixarem na hipótese original, então modifique-a. Afinal de contas, ela é apenas uma hipótese.

A propósito, pode ser muito, muito difícil mostrar como podemos por um fim a um dado problema. Às vezes, o melhor que você pode fazer é denunciar uma injustiça. Mas frequentemente, alguém ligado à sua história já procurou uma solução. Não negligencie ir atrás dessa pessoa.

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