E m um filme chamado “Harper”, o ator
Paul Newman faz o papel de um detetive
particular que se encontra diante
de uma porta com um menino que quer provar
o quão durão ele é. “Por favor, por favor, posso
passar pela porta?”, ele implora. “Claro”, diz
o detetive. A criança se arremessa contra a
porta e quase quebra o seu ombro. Harper
caminha até a porta, gira a maçaneta e a abre.
Em minha experiência de ensino e prática de
investigações, vejo muitas pessoas que agem
como essa criança, tentando quebrar barreiras
que não estão realmente fechadas, ou que elas
poderiam facilmente contornar. Tipicamente,
essas pessoas sofrem com uma ilusão: elas pensam
que qualquer coisa que não é um segredo
também não é digna de ser conhecida. E assim
passam o seu tempo tentando fazer com que as
pessoas lhes contem segredos. Até mesmo pessoas
que são muito, muito boas nisso (Seymour
Hersh e o neozelandês Nicky Hager vêm à mente)
são obrigadas a mover-se devagar sobre esse
terreno.
Infelizmente, para a maioria de nós, é difícil diferenciar
um segredo de uma mentira. Enquanto
isso, a pessoa termina fazendo papel de bobo,
pois normalmente, pedir as pessoas para lhe
contar algo as torna muito poderosas, e torna a
pessoa que pergunta digna de pena.
Os profissionais de inteligência, cujos interesses
incluem viver um tempo longo o suficiente para
receber uma aposentadoria, usam uma abordagem
diferente, com base em diferentes pressupostos:
A maior parte daquilo que chamamos "segredos" é composta simplesmente por fatos aos quais não tínhamos prestado atenção.
A maior parte desses fatos - a estimativa comum é de 90% - está disponível para a nossa consulta em uma fonte “aberta”, ou seja, uma fonte que pode ser livremente acessada.
Temos ouvido frequentemente que em um ou
outro país, as informações de fontes abertas
são limitadas e de qualidade ruim. Isso pode ser
mais ou menos verdadeiro. Mas também temos
percebido que sempre há mais informações de
fontes abertas à disposição do que os jornalistas
têm conseguido utilizar. O seu sucesso em por as
mãos nessas fontes e produzir histórias a partir
delas é frequentemente fácil, porque os seus
competidores normalmente não estão fazendo
esse trabalho. Ao invés disso, eles estão implorando
para que alguém lhes conte um segredo.
Um exemplo em meio a diversos outros:
Na década de 1980, um jovem repórter francês de nome
Hervé Liffran, do semanário Canard Enchaîné foi destacado
para cobrir a prefeitura de Paris, mas descobriu
que os funcionários públicos receberam ordens de não
falar com ele. A única repartição onde ele podia entrar
livremente era a biblioteca administrativa da cidade,
onde cópias de todos os relatórios internos e contratos
eram mantidas. Um dos seus primeiros furos jornalísticos
foi a revelação de que a cidade tinha assinado contratos
escandalosamente ricos para as grandes companhias de
água e escandalosamente caros para os contribuintes.
Quando as pessoas dentro da prefeitura viram que Liffran
não poderia ser detido, elas começaram a falar com ele.
Mais adiante, ele utilizou registros de votos livremente disponíveis
para expor manipulações eleitorais na cidade de
Paris; ele conferiu as listas para checar se os eleitores cujos
endereços oficiais estavam em prédios de propriedade da
cidade realmente viviam nesses lugares.
Então já dá para ter uma noção do conceito.
Qualquer fato que está registrado em algum
lugar, e que é aberto ao público, está ali à sua
disposição. Não suponha que por serem abertas
ao público, essas informações sejam velhas, inú-
teis, ou já conhecidas. Não procure somente por
partes específicas de informações; isso é o que os
amadores fazem. Ao invés disso, procure pelos
tipos de fontes e abordagens que você poderá
sempre usar novamente. A sua capacidade de
usar esse material será um fator crucial na sua
reputação.
Lembre-se sempre disto:
É sempre mais fácil fazer com que alguém
confirme algo que você já sabe ou já entendeu,
do que fazer com que alguém se voluntarie
a dar informações que você ainda não
tem. Voltaremos a essa questão mais adiante,
na seção intitulada “fontes abertas como uma
fonte de poder”.
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